sábado, 11 de junho de 2011

Livro didático: sobrou para o Stalin!



Escola soviética em 1931: norma culta


No dia 31 de maio, o ministro da Educação, Fernando Haddad, esteve na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para falar sobre o material didático adotado pelo seu Ministério. Em especial, livros de história que enalteceriam a administração petista e criticariam a gestão tucana na Presidência da República, e o livro que ensina: “Mas eu posso falar ‘os livro?’. Claro que pode.”

Após a argumentação inicial do ministro, que acusou os que criticaram o livro de Português de não o terem lido, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), referiu-se “a uma corrente do Partido Comunista Russo que, quando Stalin chegou ao poder, tentou introduzir uma nova língua do partido. Stalin não permitiu. Essa língua sepultaria a norma culta”. 

Para rebater o tucano, o ministro petista se valeu da velha cantilena de comparar Stalin com Hitler: “O senador Alvaro Dias fez uma referência ao Stalin que achei muito interessante, porque há uma diferença entre Hitler e Stalin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam seus inimigos, mas o Stalin lia os seus livros antes de fuzilá-los. Essa é a grande diferença”.

Haddad, que se vangloriou de não criticar “um autor sem cobrir sua obra”, fazendo questão de frisar que defendeu tese de doutorado na Universidade de São Paulo, acabou não informando onde aprendeu que a “grande diferença” entre Hitler e Stalin é que o dirigente da URSS lia aos obras dos autores que fuzilava. Mas quem quiser se aprofundar a respeito das inúmeras diferenças – de classe, senhor ministro, de classe – entre o dirigente nazista e o dirigente comunista poderá consultar, dentre outros, “Stalin, história crítica de uma lenda negra”, de Domenico Losurdo (Editora Revan). Aliás, sobre o assunto educação, registra o livro:“

Aqueles que, com o delinear-se da crise da Grande Aliança, tinham começado a comparar a União Soviética de Stalin e a Alemanha de Hitler, foram duramente rebatidos por Thomas Mann. O que caracterizara o III Reich fora a ‘megalomania racial’ da pretensa 'raça de senhores', que pusera em ação uma 'política diabólica de despovoamento', e antes ainda de extirpação da cultura, nos territórios sempre de novo conquistados. Hitler se ativera à máxima de Nietzsche:'Se quiser escravos, é tolice educá-los como senhores'. Diretamente oposta era a orientação do 'socialismo russo', que, difundindo maciçamente instrução e cultura, demonstrara não querer 'escravos', mas 'homens pensantes' e, portanto, a serem postos no 'caminho da liberdade'. Então se tornava inaceitável a comparação entre os dois regimes. Melhor dizendo, aqueles que argumentavam assim podiam ser suspeitos de cumplicidade com o fascismo, o qual declaravam querer condenar."

Durante a audiência do ministro, o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) distribuiu aos presentes um livro sobre o poeta cearense Patativa do Assaré. Demonstrou que, língua padrão à parte, o português popular também produz arte de qualidade, e esta arte deve ter guarida também nos bancos escolares. 
Por atinente, reproduzo artigo da professora e jornalista Dad Squarisi sobre episódios de revisão histórica e de trato da língua nas escolas:

 Nós dá um jeitinho

A maior tragédia do Brasil? É o jeitinho. Sem regras claras, fica-se numa zona pantanosa. O sim não significa sim. O não tampouco quer dizer não. Tudo depende. Depende do crachá, do QI (quem indica), da conta bancária, da rede de amigos. Às vezes, do tempo. Outras vezes, do humor. Daí termos mais de 50 formas de responder à pergunta "como vai?" É um tal de vou indo, navegando, levando, como Deus quer, como o vento sopra, empurrando com a barriga. Etc. Etc. Etc. O jeitinho faz milagres. 

Apaga fatos históricos. Graças a ele, o impeachment do Collor virou detalhe, indigno de figurar na história do Senado. Depois da grita — dos caras-pintadas aos historiadores —, o mais importante acontecimento da democracia contemporânea desta alegre Pindorama reconquistou a relevância. Ganhou espaço no túnel do tempo da Câmara Alta. 

O jeitinho confunde ciências e muda conceitos. Erro não é mais erro. É preconceito linguístico. Escrever "os livro" ou "nós pega o peixe" figura em livro didático com o mesmo status de "os livros" e "nós pegamos o peixe". Apesar dos esperneios de pais, estudantes, professores, empresários, políticos & gente como a gente, o ministro da Educação bate pé. Jura que os indignados estão indignados porque não leram o livro.

Há os que leram e os que não leram a obra. Uns e outros sabem que o buraco é mais embaixo. O ser bonzinho esconde baita discriminação. Acredita que o aluno da escola pública nunca vai chegar lá. Se aprender ou deixar de aprender a gramática normativa, não faz diferença. Ele não passará das tamancas. Não é por acaso que impera nas instituições públicas o jogo do faz de conta. O professor finge que ensina. O aluno finge que aprende. O Estado se finge de cego.

O teatro não se restringe ao português. Abrange matemática, história, geografia, ciências. Mas é mais notável na língua pátria. Sem a habilidade da leitura, o estudante não entende enunciados. Prejudica-se em todas as disciplinas. Sem a habilidade da escrita, não pode exprimir-se. Se sabe a resposta da questão, não consegue escrevê-la. Assim, cada macaco mantém-se no seu galho. Em resumo: o ensinar que "nós pega" está correto foi a gota d´água. Os que leram e os que não leram o livro sofrem na carne, no coração e no bolso o resultado do preconceito.

Fonte - Vermelho

Um comentário:

José Marcio disse...

Esse idiota quer ser prefeito de São Paulo. Tomara que perca.

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