Escola soviética em 1931: norma culta |
No dia 31 de maio, o ministro da Educação, Fernando
Haddad, esteve na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para falar
sobre o material didático adotado pelo seu Ministério. Em especial, livros de
história que enalteceriam a administração petista e criticariam a gestão tucana
na Presidência da República, e o livro que ensina: “Mas eu posso falar ‘os
livro?’. Claro que pode.”
Após a argumentação inicial do ministro, que acusou
os que criticaram o livro de Português de não o terem lido, o senador Alvaro
Dias (PSDB-PR), referiu-se “a uma corrente do Partido Comunista Russo que,
quando Stalin chegou ao poder, tentou introduzir uma nova língua do partido.
Stalin não permitiu. Essa língua sepultaria a norma culta”.
Para rebater o tucano, o ministro petista se valeu
da velha cantilena de comparar Stalin com Hitler: “O senador Alvaro Dias fez
uma referência ao Stalin que achei muito interessante, porque há uma diferença
entre Hitler e Stalin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam
seus inimigos, mas o Stalin lia os seus livros antes de fuzilá-los. Essa é a
grande diferença”.
Haddad, que se vangloriou de não criticar “um autor
sem cobrir sua obra”, fazendo questão de frisar que defendeu tese de doutorado
na Universidade de São Paulo, acabou não informando onde aprendeu que a “grande
diferença” entre Hitler e Stalin é que o dirigente da URSS lia aos obras dos
autores que fuzilava. Mas quem quiser se aprofundar a respeito das inúmeras
diferenças – de classe, senhor ministro, de classe – entre o dirigente nazista
e o dirigente comunista poderá consultar, dentre outros, “Stalin, história
crítica de uma lenda negra”, de Domenico Losurdo (Editora Revan). Aliás, sobre
o assunto educação, registra o livro:“
Aqueles que, com o delinear-se da crise da Grande
Aliança, tinham começado a comparar a União Soviética de Stalin e a Alemanha de
Hitler, foram duramente rebatidos por Thomas Mann. O que caracterizara o III
Reich fora a ‘megalomania racial’ da pretensa 'raça de senhores', que pusera em
ação uma 'política diabólica de despovoamento', e antes ainda de extirpação da
cultura, nos territórios sempre de novo conquistados. Hitler se ativera à
máxima de Nietzsche:'Se quiser escravos, é tolice educá-los como senhores'.
Diretamente oposta era a orientação do 'socialismo russo', que, difundindo
maciçamente instrução e cultura, demonstrara não querer 'escravos', mas 'homens
pensantes' e, portanto, a serem postos no 'caminho da liberdade'. Então se
tornava inaceitável a comparação entre os dois regimes. Melhor dizendo, aqueles
que argumentavam assim podiam ser suspeitos de cumplicidade com o fascismo, o
qual declaravam querer condenar."
Durante a audiência do ministro, o senador Inácio
Arruda (PCdoB-CE) distribuiu aos presentes um livro sobre o poeta cearense
Patativa do Assaré. Demonstrou que, língua padrão à parte, o português popular
também produz arte de qualidade, e esta arte deve ter guarida também nos bancos
escolares.
Por atinente, reproduzo artigo da professora e
jornalista Dad Squarisi sobre episódios de revisão histórica e de trato da
língua nas escolas:
Nós dá um jeitinho
A maior tragédia do Brasil? É o jeitinho. Sem
regras claras, fica-se numa zona pantanosa. O sim não significa sim. O não
tampouco quer dizer não. Tudo depende. Depende do crachá, do QI (quem indica),
da conta bancária, da rede de amigos. Às vezes, do tempo. Outras vezes, do
humor. Daí termos mais de 50 formas de responder à pergunta "como
vai?" É um tal de vou indo, navegando, levando, como Deus quer, como o
vento sopra, empurrando com a barriga. Etc. Etc. Etc. O jeitinho faz
milagres.
Apaga fatos históricos. Graças a ele, o impeachment
do Collor virou detalhe, indigno de figurar na história do Senado. Depois da
grita — dos caras-pintadas aos historiadores —, o mais importante acontecimento
da democracia contemporânea desta alegre Pindorama reconquistou a relevância.
Ganhou espaço no túnel do tempo da Câmara Alta.
O jeitinho confunde ciências e muda conceitos. Erro
não é mais erro. É preconceito linguístico. Escrever "os livro" ou
"nós pega o peixe" figura em livro didático com o mesmo status de
"os livros" e "nós pegamos o peixe". Apesar dos esperneios
de pais, estudantes, professores, empresários, políticos & gente como a
gente, o ministro da Educação bate pé. Jura que os indignados estão indignados
porque não leram o livro.
Há os que leram e os que não leram a obra. Uns e
outros sabem que o buraco é mais embaixo. O ser bonzinho esconde baita
discriminação. Acredita que o aluno da escola pública nunca vai chegar lá. Se
aprender ou deixar de aprender a gramática normativa, não faz diferença. Ele
não passará das tamancas. Não é por acaso que impera nas instituições públicas
o jogo do faz de conta. O professor finge que ensina. O aluno finge que
aprende. O Estado se finge de cego.
O teatro não se restringe ao português. Abrange
matemática, história, geografia, ciências. Mas é mais notável na língua pátria.
Sem a habilidade da leitura, o estudante não entende enunciados. Prejudica-se
em todas as disciplinas. Sem a habilidade da escrita, não pode exprimir-se. Se
sabe a resposta da questão, não consegue escrevê-la. Assim, cada macaco
mantém-se no seu galho. Em resumo: o ensinar que "nós pega" está
correto foi a gota d´água. Os que leram e os que não leram o livro sofrem na
carne, no coração e no bolso o resultado do preconceito.
Fonte - Vermelho
No dia 31 de maio, o ministro da Educação, Fernando
Haddad, esteve na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado para falar
sobre o material didático adotado pelo seu Ministério. Em especial, livros de
história que enalteceriam a administração petista e criticariam a gestão tucana
na Presidência da República, e o livro que ensina: “Mas eu posso falar ‘os
livro?’. Claro que pode.”
Após a argumentação inicial do ministro, que acusou
os que criticaram o livro de Português de não o terem lido, o senador Alvaro
Dias (PSDB-PR), referiu-se “a uma corrente do Partido Comunista Russo que,
quando Stalin chegou ao poder, tentou introduzir uma nova língua do partido.
Stalin não permitiu. Essa língua sepultaria a norma culta”.
Para rebater o tucano, o ministro petista se valeu
da velha cantilena de comparar Stalin com Hitler: “O senador Alvaro Dias fez
uma referência ao Stalin que achei muito interessante, porque há uma diferença
entre Hitler e Stalin que precisa ser devidamente registrada. Ambos fuzilavam
seus inimigos, mas o Stalin lia os seus livros antes de fuzilá-los. Essa é a
grande diferença”.
Haddad, que se vangloriou de não criticar “um autor
sem cobrir sua obra”, fazendo questão de frisar que defendeu tese de doutorado
na Universidade de São Paulo, acabou não informando onde aprendeu que a “grande
diferença” entre Hitler e Stalin é que o dirigente da URSS lia aos obras dos
autores que fuzilava. Mas quem quiser se aprofundar a respeito das inúmeras
diferenças – de classe, senhor ministro, de classe – entre o dirigente nazista
e o dirigente comunista poderá consultar, dentre outros, “Stalin, história
crítica de uma lenda negra”, de Domenico Losurdo (Editora Revan). Aliás, sobre
o assunto educação, registra o livro:“
Aqueles que, com o delinear-se da crise da Grande
Aliança, tinham começado a comparar a União Soviética de Stalin e a Alemanha de
Hitler, foram duramente rebatidos por Thomas Mann. O que caracterizara o III
Reich fora a ‘megalomania racial’ da pretensa 'raça de senhores', que pusera em
ação uma 'política diabólica de despovoamento', e antes ainda de extirpação da
cultura, nos territórios sempre de novo conquistados. Hitler se ativera à
máxima de Nietzsche:'Se quiser escravos, é tolice educá-los como senhores'.
Diretamente oposta era a orientação do 'socialismo russo', que, difundindo
maciçamente instrução e cultura, demonstrara não querer 'escravos', mas 'homens
pensantes' e, portanto, a serem postos no 'caminho da liberdade'. Então se
tornava inaceitável a comparação entre os dois regimes. Melhor dizendo, aqueles
que argumentavam assim podiam ser suspeitos de cumplicidade com o fascismo, o
qual declaravam querer condenar."
Durante a audiência do ministro, o senador Inácio
Arruda (PCdoB-CE) distribuiu aos presentes um livro sobre o poeta cearense
Patativa do Assaré. Demonstrou que, língua padrão à parte, o português popular
também produz arte de qualidade, e esta arte deve ter guarida também nos bancos
escolares.
Por atinente, reproduzo artigo da professora e
jornalista Dad Squarisi sobre episódios de revisão histórica e de trato da
língua nas escolas:
Nós dá um jeitinho
A maior tragédia do Brasil? É o jeitinho. Sem
regras claras, fica-se numa zona pantanosa. O sim não significa sim. O não
tampouco quer dizer não. Tudo depende. Depende do crachá, do QI (quem indica),
da conta bancária, da rede de amigos. Às vezes, do tempo. Outras vezes, do
humor. Daí termos mais de 50 formas de responder à pergunta "como
vai?" É um tal de vou indo, navegando, levando, como Deus quer, como o
vento sopra, empurrando com a barriga. Etc. Etc. Etc. O jeitinho faz
milagres.
Apaga fatos históricos. Graças a ele, o impeachment
do Collor virou detalhe, indigno de figurar na história do Senado. Depois da
grita — dos caras-pintadas aos historiadores —, o mais importante acontecimento
da democracia contemporânea desta alegre Pindorama reconquistou a relevância.
Ganhou espaço no túnel do tempo da Câmara Alta.
O jeitinho confunde ciências e muda conceitos. Erro
não é mais erro. É preconceito linguístico. Escrever "os livro" ou
"nós pega o peixe" figura em livro didático com o mesmo status de
"os livros" e "nós pegamos o peixe". Apesar dos esperneios
de pais, estudantes, professores, empresários, políticos & gente como a
gente, o ministro da Educação bate pé. Jura que os indignados estão indignados
porque não leram o livro.
Há os que leram e os que não leram a obra. Uns e
outros sabem que o buraco é mais embaixo. O ser bonzinho esconde baita
discriminação. Acredita que o aluno da escola pública nunca vai chegar lá. Se
aprender ou deixar de aprender a gramática normativa, não faz diferença. Ele
não passará das tamancas. Não é por acaso que impera nas instituições públicas
o jogo do faz de conta. O professor finge que ensina. O aluno finge que
aprende. O Estado se finge de cego.
O teatro não se restringe ao português. Abrange
matemática, história, geografia, ciências. Mas é mais notável na língua pátria.
Sem a habilidade da leitura, o estudante não entende enunciados. Prejudica-se
em todas as disciplinas. Sem a habilidade da escrita, não pode exprimir-se. Se
sabe a resposta da questão, não consegue escrevê-la. Assim, cada macaco
mantém-se no seu galho. Em resumo: o ensinar que "nós pega" está
correto foi a gota d´água. Os que leram e os que não leram o livro sofrem na
carne, no coração e no bolso o resultado do preconceito.
Fonte - Vermelho
Um comentário:
Esse idiota quer ser prefeito de São Paulo. Tomara que perca.
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