Serguêi Varchávtchik, RIA Nóvosti
O historiador Aleksêi Issaev, autor dos livros “Anti-Suvorov”, “Desde Dubno até Rostov”, “Batalha de Khárkov (fevereiro-março de 1943)”, “História Concisa da Grande Guerra Patriótica. A ofensiva do Marechal Cháposnikov” falou, em entrevista ao observador da agência Ria-Nóvosti, Serguêi Varchávtchik, sobre o que teria acontecido com a União Soviética se os nazistas tivessem tomado Moscou no outono de 1941.
- O que diferencia a Batalha de Moscou de muitas outras batalhas da Segunda Guerra Mundial?
- Um número sem precedentes de carros de combate lançados pelos nazistas na batalha. Em maio de 1940, bastou à Alemanha apenas um grupo de blindados do general Kleist para conquistar a França. No verão de 1941, precisou de dois grupos de carros de combate para quebrar a resistência das tropas do general Pavlov na Frente Ocidental e em outubro de 1941 lançou três grupos de blindados, cada um com cerca de 150 mil a 200 mil efetivos, contra Moscou. Nem antes nem depois os alemães usaram forças blindadas tão grandes.
- No início da operação Tufão, nos arredores das cidades de Viázma e Briansk, mais de 688 mil soldados e oficiais soviéticos foram feitos prisioneiros. A Frente Ocidental deixou, de fato, de existir. Os nazistas poderiam ter tomado Moscou já em outubro?
- Não, eles foram parados pelas tropas de reserva vindas de Leningrado, Frente Sudoeste, Região Militar da Ásia Central e do Extremo Oriente e pelas brigadas de cavalaria blindada de reserva do quartel-general do Supremo Comando. É um erro pensar que, depois que a Frente Ocidental deixou de existir, não havia mais ninguém no caminho das tropas alemãs para Moscou.
- O marechal Jukov escreveu em suas memórias que “no final do dia 7 de outubro, todos os caminhos para Moscou estavam, de fato, abertos”.
- Isso não passa de uma figura de linguagem destinada a dar ênfase à situação dramática vivida naquela época. Se as tropas soviéticas cercadas tivessem, de repente, desaparecido e os alemães não tivessem precisado combatê-las, o exercito alemão teria marchado diretamente contra Moscou. Mas no dia 7, o caminho para Moscou estava barrado por várias unidades do exército soviético, entre as quais o destacamento de Stortchak, comandante de pára-quedistas da Região Militar Ocidental, cadetes das escolas de infantaria e de artilharia de Podolsk e da escola de infantaria de Moscou. Em uma palavra, a linha defensiva de Mojaisk contava com um número considerável de soldados e carros de combate.
- Por que, em sua opinião, as tropas nazistas se aproximaram mais de Moscou pelo norte? As tropas do general Guderian vindas do sul se detiveram lutando contra os defensores da cidade de Tula?
- Diferentemente da Frente Sul, na Frente Norte atuaram dois grupos de cavalaria blindada alemães, transformados, em janeiro de 1942, no 3º exército do general Reinhardt e 4º exército do general Gepner. Portanto, os golpes desferidos sobre as tropas soviéticas no norte e noroeste foram muito mais fortes do que nas outras frentes. Mas Moscou resistiu graças a um desempenho competente do comandante do 16º Exército, general Rokossovski, encarregado de defender a capital soviética nessa direção e ao fato de os alemães terem avançado por uma região arborizada com escassas rodovias. Eles não quiseram atacar Moscou de frente como Napoleão e decidiram contorná-la.
- Isso teve lógica, pois os alemães não tinham a intenção de se envolver em combates prolongados, querendo cercar a capital soviética.
- Sim, teve, mas essa lógica os levou a uma região difícil para o emprego de carros de combate e fácil para a organização de uma boa defesa com pequenas forças: os defensores de Moscou conseguiram conter a ofensiva da cavalaria blindada alemã ao colocar canhões antiaéreos para tiro direto contra os veículos blindados inimigos.
- Você não acha que a segunda fase da Batalha de Moscou quase reduziu a nada os resultados da primeira fase defensiva? Stálin superestimou o potencial ofensivo do Exército Vermelho quando ordenou uma contra-ofensiva generalizada em todas as frentes. Como resultado, a contra-ofensiva soviética se afogou em um banho de sangue.
- O objetivo da contra-ofensiva era não deixar os alemães voltarem a si e afastar, o máximo possível, a linha da frente de Moscou. Essa missão foi cumprida. As tropas nazistas tiveram que recuar centenas de quilômetros. Um outro fator importante, muitas vezes omitido: os soviéticos precisavam recolher seus blindados quebrados. Quando um carro de combate fica quebrado após ser atingido por um projétil, não é difícil repará-lo e colocá-lo novamente em serviço. Mas, se as tropas recuam, os veículos atingidos viram troféu do inimigo, à semelhança do que aconteceu com as unidades motorizadas soviéticas durante as batalhas na fronteira no verão de 1941 e as divisões blindadas alemãs no verão de 1943. O campo de batalha fica sempre à disposição do vencedor.
Durante a contra-ofensiva na Batalha de Moscou, o Exército Vermelho fez uma boa colheita de troféus, inclusive carros de combate, viaturas blindadas de transporte de pessoal e outros veículos abandonados pelos alemães no campo de batalha por terem sido atingidos com tiros ou devido a falhas do motor. Assim, os invasores que chegaram próximo a Moscou de veículos blindados recuaram a pé ou a cavalo. Aliás, os policiais do romance “Era da Misericórdia”, dos irmãos Vainer, correm por Moscou atrás de criminosos em um ônibus alemão “Opel Blitz” capturado na Batalha de Moscou.
- Tem alguma coisa a dizer sobre as três tentativas de negociar o cessar-fogo supostamente empreendidas por Stálin em 1941 e 1942?
- Esses episódios não receberam confirmação nos arquivos abertos nos finais da década de 1990. Mais do que isso, causa estranheza a tentativa de datar as alegadas negociações de cessar-fogo do início de 1942, quando o Exército Vermelho fez o inimigo retirar-se dos arredores de Moscou e Stalin, como Comandante Supremo e satisfeito com a situação militar criada, fixou, nos planos para 1942, o objetivo de expulsar definitivamente as tropas inimigas da URSS.
- Que papel teve o marechal Jukov no destino trágico do 33º Exército do general Efremov, que se matou a tiro ao ver suas tropas cercadas pelos nazistas depois de uma malograda tentativa de ofensiva nos arredores das cidades de Viazma e Rjev?
- Em minha opinião, Jukov fez um grande erro ao designar, em janeiro de 1942, o general Efremov para dirigir a difícil operação ofensiva contra a cidade de Viazma. Teria feito melhor se tivesse confiado essa missão a seu substituto, general Zakharov, homem mais enérgico e mais resoluto do que Efremov. Jukov escreveu a Efremov: “Você tem uma chance de se destacar”. Mas Efremov, em vez de planejar um golpe concentrado sobre Viazma, estendeu suas tropas ao longo do eixo de avanço. Se ele tivesse tomado a cidade de Viazma, o exército nazista teria ficado sem o sistema de transportes. Mas os alemães não eram tolos e lançaram contra o general Efremov duas divisões de cavalaria blindada, no norte e no sul da cidade de Viazma. Para efeito de comparação, gostaria de dizer que, se os alemães tivessem tido na Batalha de Stalingrdo, em novembro de 1942, duas divisões blindadas e as tivessem colocado a norte e a sul da cidade de Kalach, a famosa operação soviética Urano de cerco ao exército do marechal Paulus teria terminado em fracasso.
- No dia 6 de setembro de 1941, Hitler deu a ordem para o comandante do grupo de exércitos Norte, marechal Leeb, passar para o grupo de exércitos Centro todos os seus carros de combate e boa parte de suas tropas para que este iniciasse o mais rapidamente possível a ofensiva contra Moscou. Portanto, Moscou salvou Leningrado, atraindo para si as principais forças nazistas?
- Não. Isso não estava diretamente ligado ao início da operação Tufão, embora o grupo de carros de combate do general Gepner reforçasse muito as tropas apontadas contra Moscou. O destino de Leningrado fora decidido na linha defensiva de Luga já em julho e agosto de 1941. Podemos dizer que os habitantes de Leningrado salvaram a si mesmos e que as tropas de Leningrado foram enviadas para ajudar Moscou, embora pudessem ter sido utilizadas para abrir um caminho para a cidade sitiada, possivelmente já em 1941
- Como explicar as baixas tão grandes da União Soviética na Batalha de Moscou? Perdemos, entre mortos, 1.806.123 homens e os nazistas, 581.900?
- Pelo fato de termos combatido na Batalha de Moscou sem apoio da indústria: todas as indústrias foram evacuadas da cidade. No inverno de 1941/1942, a artilharia soviética não tinha projéteis suficientes. Cada disparo da artilharia soviética foi respondido com vários tiros de canhões pesados alemães. Também tínhamos falta de carros de combate. No final de janeiro de 1942, os carros de combate mais comuns no exército soviético eram os tanques ligeiros T-60. A maioria dos carros de combate médios e pesados havia quebrado nas batalhas anteriores e estava em reparo. O Exército Vermelho não tinha brigadas nem divisões de cavalaria blindada autônomas.
Na Batalha de Moscou, conseguimos resistir dispondo de apenas carros de combate ligeiros destinados a apoiar a infantaria, isso foi como se lutássemos com um punhal contra um inimigo armado com uma espada. Quero deixar bem claro que a Batalha de Moscou foi uma operação de proporções enormes em uma frente muito grande e contra um inimigo muito forte. Com efeito, em 1941 e 1942, o grupo de exércitos Centro não era o mesmo agrupamento militar que mais tarde cairia sob os golpes das tropas soviéticas durante a operação Bagration, no verão de 1944.
- Em 1812, Moscou foi rendida pelos franceses, o que não afetou, entretanto, o poder combativo do exército russo e, até pelo contrário, mudou a situação com desvantagem para Napoleão. O que teria acontecido se os nazistas tivessem tomado Moscou em 1941?
- Ao contrário de 1812, a Moscou de 1941 era um importante entroncamento ferroviário e rodoviário. A queda de Moscou teria tido como consequência o colapso do sistema de transporte da URSS e a rendição de Leningrado por causa da perda de comunicações. Por isso, a rendição de Moscou era impossível.
Fonte - O Outro Lado da Notícia
Fonte - O Outro Lado da Notícia
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