O professor Bertone Sousa reforçou seu discurso que apenas reitera suas posições anteriores no que diz respeito ao Relatório Kruschev, agora apoiado em um texto do historiador russo Medvedev. No entanto, vemos o que Harpal Brar, paquistanês que vive na Inglaterra, comenta a respeito do livro Deixe a História Julgar, de Medvedev:
4. Na questão do socialismo, como de fato em outras questões, os ataques a Stalin
e ao 'stalinismo' eram quase sempre ataques a Lênin e ao leninismo. Para mostrar a
correção desta afirmação, seria útil recorrer a um livro chamado Let History Judge,
escrito por um intelectal burguês soviético de nome Roy Medvedev. Medvedev ataca
Stalin. porém 'elogia' Lênin. O ataque de Medvedev a Stalin não se baseia em
quaisquer fatos ou documentação, mas em meras intrigas e na imaginação fértil de um
cérebro burguês cujo produto em termos de invenção é ilimitado.
Mesmo o colunista anticomunista reacionário Edward Crankshaw, um dos críticos
deste livro no Observer de 26 de Março de 1972, teve que admitir que Medvedev
teve "acesso negado a todos os arquivos oficiais". Isto, contudo, não evitou que
Crankshaw concordasse com o ataque de Medvedev a Stalin e o admirasse, sendo o
motivo para isso o fato de que seria "este livro o drama elevado de um indivíduo
talentoso lutando em busca da verdade, guiado apenas por sua luz interior". É assim
que a verdade é estabelecida pelo pensamento burguês, isto é, ignorando
completamente os fatos e apoiando-se na "na luz interior" de alguém.
Crankshaw segue dizendo: "Porém, além de ser história de uma época e um ato
de homenagem às inúmeras vítimas e aos sofrimentos do povo soviético como um
todo, sua narrativa tem acima de tudo o objetivo de estabelecer as bases necessárias
não apenas para a rejeição absoluta das tentativa de atribuir grandeza a Stalin mas
também, mais profundamente, para a abertura de uma discussão inteligente da
natureza da revolução de Lênin e de sua perversão.
Aqui é onde Laocoonte1 surge. Como o Professor Joravsky (cuja edição merece
todo louvor) assinala em sua introdução, grande parte do impacto extraordinário do
livro como um todo deriva da tensão constante criada pelas contradições inerentes à
sua tese central. Como diagnosticar o "desastre" stalinista sem condenar o sistema [soviético].
Como está certo o Professor Joravsky ao detectar esta contradição inerente! Ele
está muito certo ao destacar que a "doença stalinista" não pode ser
diagnosticada "sem condenar o sistema soviético e seu progenitor, Lênin". Toda
tentativa deste gênero fracassa, e todos os que condenam o 'Stalinismo' estão
obrigados a acabar condenando o leninismo. Não é à toa que Crankshaw termina sua
crítica expressando a esperança de que Medvedev "possa ainda um dia corrigir a
fraqueza [a incapacidade de Medvedev de diagnosticar a "doença stalinista" pela
condenação de Lênin], o que seria uma façanha muito notável.
De forma parecida, Mervin Jones, em sua crítica do mesmo livro (New Statesman,
14 abril de 1972), comenta que "mesmo seus capítulos analíticos respondem a
questão 'Como?' mais do que a questão 'Por quê?'. Ele adota sem objeção a doutrina
das 'normas leninistas', assume que Lênin esteve sempre certo e diz-nos que Stalin
'liquidou quase completamente a democracia socialista que era um dos principais
resultados da revolução de Outubro' - sem perguntar quanto esta democracia tinha
sido erodida na época de Lênin, e ainda menos se ela realmente existiu. Ele até
mesmo traça um contraste entre a polícia secreta Stalinista e a Cheka, escrupulosa,
humana, que afinal de contas liquidou 6.000 pessoas sem julgamento em 1918 e foi
autorizada por Lênin a embarcar em um 'terror vermelho maciço'. Diz-nos que a
teoria da revolução permanente de Trotsky estava 'errada' e que a teoria da
acumulação primitiva de Preobrazhensky estava 'incorreta', despachando
sumariamente questões altamente complexas. O pior lapso surge quando Medvedev
afirma solenemente que Beria era um agente antibolchevique em 1919 e que isso foi
'estabelecido' por seu julgamento em 1953 - um julgamento que foi certamente
secreto e provavelmente não existiu. Infelizmente é difícil mesmo para o mais
honesto produto do regime soviético livrar-se dessa camisa-de-força mental.
Em outras palavras, Mervyn Jones diz que não se pode condenar Stalin sem
condenar o sistema soviético e o leninismo. E ele está certo. Certamente, não é preciso
dizer, Mr. Jones gostaria de ver condenado não apenas o 'stalinismo' mas também o
leninismo e o sistema soviético. Os revolucionários, entretanto, extrairiam a lição
oposta e não deveriam condenar Stalin, pois tal condenação conduz diretamente à
condenação do leninismo e do sistema soviético. Stalin não fez mais nem menos do
que aplicar o leninismo às condições da URSS na construção do socialismo. Pode-se
assim ver que, quando os trotskistas, revisionistas e outros condenam Stalin, eles estão
de fato condenando o leninismo, a despeito de alguns desejos subjetivos em contrário
que alguns desses cavalheiros podem ter." (Brar, pp. 21-22).
Sendo assim, pode-se notar que Bertone oscila entre condenar e igualar o sistema soviético como um todo, igualando Lênin e Stálin e ao mesmo tempo ele busca salvar o argumento trotsquista de que bolchevismo e stalinismo são diferentes. No entanto, isso são apenas desejos subjetivos.
Fonte Revistá Cidade Sol
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